domingo, 5 de maio de 2013

O SÉTIMO DESEJO









As árvores permanecem. Agarram os dias com a sua força implacável nascida do interior da terra. Vem de longe, do fundo, dos subterrâneos labirintos da memória onde barcos dormem o sono do esquecimento, depois de terem sido o tesouro de mil navegadores à conquista de um espaço universal. E entre eles caminham fantasmas esguios com túnicas transparentes que se arrastam, pesadas pelo peso da água, no espaço aquático imaginário. Possuem uma beleza calma onde se espelham as cores dos mares coloridos encalhados.




Comecei a contá-los com o desejo íntimo de os levar presos aos meus dedos e assim rezar a minha vida ao ritmo da sua memória.
Como um peregrino perdido ao qual vendaram os olhos do rosto e a quem só resta o terço apurado do coração. E vai, continua, não desiste, acredita, avança, luta, desbrava os trilhos com todas as certezas e todas as dúvidas deixadas à nascença no espírito dos homens. Vai com o seu bastão, suportando o peso do seu corpo, abrindo as possibilidades reais e as imaginárias porque sabe da força irredutível dos  seus passos.
 "...caminante, no hay camino se hace camino al andar".
Um dia desejei ser árvore.






Desejei atravessar a janela, despindo-me aos poucos da minha personagem, e vestir-me de verde, dos pés à cabeça, sentir a brisa sussurrando-me aos ouvidos,os meus pés como raízes procurando ardentemente a água, afundando-se até perder de vista o tronco, as folhas, os ramos, os pássaros, a aragem, a chuva, a neve, os vendavais, os dias solares,os gatos curiosos, os apaixonados, os homens antigos sozinhos. Deixar em terra o que não tem espaço no mar.
E o oceano é tão largo!Mas tem as suas regras, a força motriz responsável pelo funcionamento perfeito entre homens e imensidão.
Um dia desejei ser árvore.
Foi nesse dia, nessa hora, nesse instante que voltei a nascer de novo.



Aman



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