E o calor do fim da tarde transformado em brisa fresca, acompanhando-te no regresso a casa, depois do carnaval. Porque esta festa é uma espécie de carnaval para o Porto.
Espera-se o ano todo que chegue este dia. E a ansiedade respira-se por toda a parte, quando está prestes a acontecer. E é incrível. As cores, a música, aquelas flores lilases, de pé muito alto e fino,os mangericos com o seu cheiro a Verão, a agitação, o estalar agudo dos martelos e as pessoas que saem à rua como se agora ela fosse a sua casa, a sua única casa.
E não há crise que resista. Não. Essa foi de férias por uma noite. As ruas, os largos, as esplanadas cheias, qualquer cafezinho, por humilde que seja tem a sua festa privada. Abrem-se portas, descobrem-se espaços até então fechados à vista de todos, penduram-se bandeirinhas, enfeites garridos e felizes, porque as pessoas precisam ser felizes, nem que seja só uma noite, e há alegria no ar.
E esta alegria vem lá do fundo da alma. É sincera porque as gentes do norte ou são ou não são. Não há meio termo. Assim tão seguras de si como a pedra fria com que se construiu, ao longo dos séculos a cidade.
Esta é a noite mágica. Dos filhos, dos pais, das mães, dos avós, dos tios, dos vizinhos, minha, tua, dele, dela, do amigo que veio de longe, do turista que chegou sem saber, do viajante que percorreu mil horas, da peixeira a quem as gaivotas teimavam em roubar sardinhas, à revelia. É de todos. E é isso que precisamos. É disso que o nosso país precisa. Todos por um, todos juntos para que cada um se possa sentir único e, ao mesmo tempo, parte de uma grande família.
E que essa família possa parar muitas noites para ver os balões subir no ar, como estrelas que nascem ao contrário. E o céu tornar-se, por momentos, um palco de luz criado pelas mãos dos homens.
AMAN
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