domingo, 2 de junho de 2013

A ESPERA








O que te ensinam os dias?
A esperar, ou melhor ainda,  a saber esperar, e não desesperar.
As gavetas que foram ficando vazias esperam com avidez o momento preciso  e precioso para que alguém as feche para sempre. São muitas, cada vez mais, nuas, desprovidas de objectos, de matéria palpável, cansadas, paradas, absortas entre os minutos que passam ritmados, ao sabor das brisas marítimas, e os outros que virão.
São silenciosas. Algumas vezes não. Ouvem-se as vozes saindo da madeira antiga, rezando uma oração pequenina e ténue.O armário é sempre o mesmo mas, com o passar do tempo, as gavetas aumentam de número, alinham-se na vertical, de uma forma falsamente organizada. Ilusões, sim ilusões.....

 



Tu abandonaste há muito tempo o desespero de as saber vazias.
Permanecem contigo mas já nem  as sentes, ou talvez não as queiras sentir, com o seu rugir lamentoso de carpideiras gregas.
Mas se custou, ou melhor, se dói, se incomoda, se bate forte contra o corpo a sua existência acomodada? 
Sim, claro. Não poderia ser de outra maneira.
No entanto há tudo o resto capaz de suplantar a angústia de uma existência não desejada: a delas.
O riso, os olhos meigos, os cabelos encaracolados e compridos, as lágrimas que não gostam de lenços com cheiro a cebola, os pedidos doces " vamos lá cantar aquela canção outra vez!", o corpo desengonçado que teima em correr sem parar,as vozes de quem não sabe falar baixo, ecoando por todo o lado, pois estas são as vozes do futuro..... são eles os espíritos indomáveis que um pequeno toque pode captar , assim, quase sem querer, e já está, e as notas correm,a atenção aparece, o coração estremece porque afinal " a música é mesmo bonita"!



Se eles pudessem imaginar que existem armários repletos de gavetas vazias.....


AMAN

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