segunda-feira, 29 de abril de 2013

O MEU OLHAR DEMORADO





Como seria bom se pudesse olhar para ti mais devagar, com a serenidade devida, se conseguirmos parar o tempo do olhar, também, e assim, fotograma a fotograma, pudesse eu registar com alguma precisão o voo das tuas mãos, o alvoroço das tuas pálpebras, a fina dança das costuras da tua roupa quando caminhas, enfim, e um outro mundo infindável de pormenores  que detecto aos poucos e nunca consigo consignar devidamente, 


e talvez assim, em slow-mo, conseguisse eu ver onde é que o teu olhar se pousa exactamente quando falas dessas coisas tuas com esse meio sorriso de encantar... gostaria, enfim, de olhar para ti já sem uma réstia de vergonha nem boa educação, e com o máximo deleite, e que tu te achasses, plena de ti no meu olhar, e nele sentisses esse tocar vagaroso de que tanto te falo, aquele em que se misturam as aguas da ternura mais doce e do desejo mais aceso de ti, numa foz onde já não é mais possível separar as águas, e todo o olhar se revela carícia, finalmente e para sempre desenvergonhada, que te despe de palavras, de razões, de roupas, e atravessa o teu corpo (tão amado!) duma luz como um zénite sem sombras.






Sándalo Naranja

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